Reflexões de Mesa de Bar

A alcunha "Diegopédia" foi me dada pelo meu colega João Paulo Coêlho à época da faculdade por minha mania de emitir opinião sobre quase tudo que havia na face da terra. Este humilde Blog foi fundado em 2008 com propósitos lúdicos de opinião e hoje, ocupa em minha vida um espaço de compartilhamento de críticas e ideias em minha empreitada contra o pensamento e contra às ações elitistas tão comuns na nossa sociedade tupiniquim. E expressão "Esquerda Feijoada" criei por necessidade de diferenciar a proposta de esquerda que defendo em minha vida. Esta proposta é de uma esquerda com os trabalhadores, dos trabalhadores e para os trabalhadores. Aqui, refiro-me, em especial, aos trabalhadores do país inteiro que saem todos os dias dos mercados públicos, comem sua feijoada (autêntica comida brasileira criada pelos escravos) e saem para seus postos de trabalho lutar por mais um dia. Não milito por esquerdas de elite que vivem de discurso. Milito pela esquerda do povão, do trabalhador que não esquece que é trabalhador e que luta por uma sociedade mais justa com distribuição da riqueza. Eu milito pela "Esquerda Feijoada" e que pese na barriga das elites a digestão destas lutas!

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Considerações de Nossa Mediocridade Social: Episódio I - Estamos Formando Jovens Úteis

Eu, em semelhança ao Paulo Henrique Amorim e a tantos outros entusiastas do Brasil, não sofro do complexo de vira latas tão bem descrito poe Nelson Rodrigues e atualizado por outros personagens de nossa História. Apesar de ser um entusiasta convicto deste país, não consigo me furtar de algumas questões que tenho chamado de Nossa Mediocridade Social. Mediocridade esta que não é privilégio da sociedade brasileira, mas que tem habitado o presente como se não houvesse alternativa ou caminho de fuga.

Estamos formando jovens úteis ao sistema vigente. E o pior, jovens convencidos de que só existe esta alternativa. Evidentemente que toda generalização é uma perigo de várias faces, pois este autor acredita que a luta de classes existe e se faz viva no nosso cotidiano. Portanto, não posso acreditar que um jovem formado nas comunidades mais pobres de minha cidade possua as mesmas questões e os mesmos dilemas dos jovens que vivem nos bairro mais abastados de Fortaleza-CE.

Mesmo considerando risco da análise, tenho percebido nas pastelarias, lanchonetes, paradas de ônibus e barzinhos neo-cult algumas características nada interessantes para juventude. Não quero aqui advogar saudosismos desnecessários à juventude das décadas de 1960, 1970 e 1980 que, cada uma a seu modo e com as condições do seu tempo, fizeram suas revoluções, mas tenho me preocupado com o que veio depois de 1990. Ou seja, falo de minha geração (já que vim ao mundo em 1988) e de outras gerações próximas.

A década de 1990, no mundo e no Brasil, prestou um grande desserviço à juventude. As crises instauradas pelo neoliberalismo trouxeram um contexto que eu chamo da "década da desesperança". Se você acha que é clichê falar esta expressão porque você considera que isto é coisa de gente de esquerda que ficou desatualizada no tempo, cuidado! Esta é a primeira característica da juventude útil: o desconhecimento e o relativismo histórico. Quando se abria o jornal na década de noventa, só o que se via era crise, crise, recessão e por incrível que pareça, é a suposta "estabilidade" dos anos 1990, com repetidos episódios de "passar o pires da vergonha" ao Banco Mundial que a direita brasileira se vangloria de ter feito alguma coisa útil para este país. Quando eu vejo adultos-jovens e jovens defendendo esta teoria (sem futuro), eu tenho muita pena. Uma juventude que estudou História para esquecer e não para lembrar criticamente. Uma Juventude que estudou geografia para desconhecer o próprio país e conhecer em riqueza de detalhes a Europa e os EUA. Não me peçam para esquecer as dezenas de bizarrices que tive a oportunidade de ver na televisão e nas redes sociais da extrema ignorância de estudantes do Sudeste do país, sem nem sequer mencionar os preconceitos violentos. Tratemos aqui apenas da ignorância geográfica na qual tudo que fica fora do sudeste é Paraíba e não podemos esquecer daquele enorme estado que fica lá em cima do mapa chamado Norte! Neste sentido, temos aqui a formação de jovens úteis para a ignorância geopolítica, bons reprodutores e leitores de manchetes, bem como a formação de jovens úteis aos discursos de ódio, aderidos por tabela sem nem sequer perguntar de onde vieram. O importante é odiar alguém.

Uma coisa que não entendo, é como um jovem neste país pode ser de direita (se reconhecer e se reivindicar assim) com 500 e tantos anos de exploração das terras tupiniquins. Jovens com pensamento conversador de direita em todas as classes sociais (muito pobres, pobres, classe média endividada, classe média elite dos serviços públicos, classe média metida a rica sem os meios de produção e os Ricos com R maiúsculo). Ora, o pensamento de direita tupiniquim, não é o pensamento de direita canadense (este que é conservador mas a favor da distribuição mais equânime de serviços públicos e garantias de direitos). O pensamento de direita brasileiro legitimou e legitima a brutal desigualdade deste país e, portanto, em sã consciência, por respeito histórico aos indígenas, aos negros (que foram os mais dizimados) e ao conjunto da população brasileira, aderir ao pensamento de direita brasileiro é quase um atestado de insanidade histórica. Devo ressaltar, por força dos meus críticos, que a direita brasileira não é uma só, tal como as esquerdas, mas destaco que, em minha análise, todas as "direitas" possuem um mesmo objetivo em comum (já não posso dizer o mesmo das esquerdas): fazer o bolo crescer primeiro para depois dividir, que o mundo mesmo com as desigualdades deve ser governado pela iniciativa livre ou pouco regulada do mercado, que não importa nossas desigualdades anteriores, pois com mérito, esforço e empreendedorismo, todos podem chegar lá. Só esqueceram de dizer que não vai ter vaga para todo mundo para chegar lá. Considerando tudo isto, as classes médias produziram seus jovens de direita criando-os nos aquários chamados condomínios, juventude esta que eu chamo de "juventudes do condomínio". Eu fiz parte, um período até longo de minha infância e adolescência desta proposta de juventude. "Protegida" da violência e do contato com "gente diferenciada" como bem definiram os moradores de Higienópolis em São Paulo. Nas periferias, admiração pela direita, pela extrema direita diga-se de passagem, ganha corpo com a admiração da "força" policial, dos grandes padrinhos "amigos" e "bem feitores" das comunidades. De certa forma, a nossa classe política de direita admirada pela juventude desavisada sabe disto e tenta incorporar estas duas facetas e tenho assistido em vários lugares à ascensão de uma juventude cade vez mais totalitária. Eu não possuo dados precisos se esta parcela da juventude é maioria ou minoria, mas eu percebo que ela tem crescido. Ela esteve nas manifestações de junho de 2013, nas manifestações da Copa de 2014, ela tem estado nos estádios de futebol e na internet. E disse a que veio: detestamos negros, gays e ateus.

Uma juventude cada vez mais tomada pelo pensamento fundamentalista religioso (católico e evangélico). Não estou dizendo que os jovens devam ser sujeitos desprovidos da espiritualidade que queiram e considerem melhor, mas o fundamentalismo chega ao limite da ignorância sistêmica. Quando eu vejo jovens mais fundamentalistas do que as instituições que supostamente eles estão representando em seus atos de fé, como se pode ver no manifesto de pastores de apoio a descriminalização do uso da maconha: http://noticias.gospelmais.com.br/pastores-criam-manifesto-favoravel-descriminalizacao-drogas-55362.html (cerca de 100 pastores assinam o manifesto) e como se pode ver no manifesto de apoio da igreja católica no combate á violência contra a comunidade gay: http://noticias.band.uol.com.br/cidades/noticia/?id=100000680257&t. Enfim, quado eu vejo os jovens mais retrógrados que as instituições do seu tempo, eu tenho certeza que esta juventude é útil ao fracasso de todas as propostas de fraternidade fundadas pelas religiões e práticas transcendentes.

Não posso acreditar em uma juventude que possui como projeto majoritário de vida o Consumo. Temos aqui uma juventude útil ao mercado, sem grande críticas, pois uma camisa da Lacoste é uma Camisa da Lacoste (independente da classe social de que vem o jovem).

Estamos formando jovens úteis como mão de obra barata ao mundo do trabalho. Jovens, cada vez mais, saem dos banco de universidades com um pensamento mecânico e utilitarista. Estamos formando técnicos em mediocridades, bons executores, eficientes, produtivos e completamente desconectados do contexto social do trabalho ao qual estão inseridos.

Tudo isso parece uma grande catástrofe juvenil. Mas ora, se eu estivesse aqui para trazer apenas o dissabor do mundo e para dizer que não temos alternativa estaria eu me igualando aos desesperançosos dos anos 1990. Há saída e ela possui um caminho bem interessante: passa por ler mais de uma fonte de informação, por questionar as verdades (geralmente prontas e mastigadas) e o incentivo à cultura da rebeldia competente como defende Boaventura de Sousa Santos. As fraturas nos sistemas são produzidas por rebeldes competentes e enquanto formarmos jovens conformados, estaremos formando exércitos de repetidores esperando o próximo sucesso do Sertanejo Universitário.


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