Reflexões de Mesa de Bar

A alcunha "Diegopédia" foi me dada pelo meu colega João Paulo Coêlho à época da faculdade por minha mania de emitir opinião sobre quase tudo que havia na face da terra. Este humilde Blog foi fundado em 2008 com propósitos lúdicos de opinião e hoje, ocupa em minha vida um espaço de compartilhamento de críticas e ideias em minha empreitada contra o pensamento e contra às ações elitistas tão comuns na nossa sociedade tupiniquim. E expressão "Esquerda Feijoada" criei por necessidade de diferenciar a proposta de esquerda que defendo em minha vida. Esta proposta é de uma esquerda com os trabalhadores, dos trabalhadores e para os trabalhadores. Aqui, refiro-me, em especial, aos trabalhadores do país inteiro que saem todos os dias dos mercados públicos, comem sua feijoada (autêntica comida brasileira criada pelos escravos) e saem para seus postos de trabalho lutar por mais um dia. Não milito por esquerdas de elite que vivem de discurso. Milito pela esquerda do povão, do trabalhador que não esquece que é trabalhador e que luta por uma sociedade mais justa com distribuição da riqueza. Eu milito pela "Esquerda Feijoada" e que pese na barriga das elites a digestão destas lutas!

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Retrospectiva 2014 - Um versão sobre o que aconteceu neste ano pelo meio do mundo.

Vamos à retrospectiva de 2014. Se você não lembra, Diego lembra para você. Meus críticos pediram e lembrarei alguns fatos que nem passaram na Globo.
01. Este ano começou com algumas tragédias urbanas anunciadas, com aqueles velhos deslizamentos de terra e enchentes que vem se repetindo e o poder público e a imprensa brasileira trata-os como se tragédias inesperadas fossem. Estas "tragédias" foram e sempre tem sido democráticas com ricos e pobres, sendo estes últimos os que focam a morar em albergues e nunca tem sua situação resolvida pelo poder público. E todo ano vejo aquelas correntes de solidariedade com forte apelo midiático a serem feitas. Cada um tire suas conclusões, mas a minha é bem simples: as cidades brasileiras precisam ser repensadas a sério e faz tempo para que "tragédias anunciadas" não ocorram de forma tão banalizada todo ano;
02. Muitas coisas caíram em 2014. Caiu torre, caiu viga do estádio do Corinthians (matando três operários, com declarações do presidente daquele clube dizendo que era isso mesmo), caiu o viaduto de BH (matando uma motorista de ônibus e até agora as responsabilidades estão rolando a passos lentos, bem lentos...);
03. Alguns aviões caíram em 2014. a Malaysia Air lines teve sua primeira grande tragédia com o Boeing 777 que mudou de rota abruptamente e foi cair no oceano índico por motivos até hoje desconhecidos. A segunda tragédia foi com outro Boeing 777 que desta vez caiu na Ucrânia, muito provavelmente atingido por um míssil do conflito Russia x Ucrânia (olhe que derrubar um 777 cheio de passageiros com míssil é um dos indícios do fim dos tempos). Recentemente, tivemos outra queda do Airbus A320 da AirAsia (Cia também da Malaysia Airlines) que sumiu do radar e deve ter caído do oceano sem possibilidades de sobreviventes. Ou seja, a avião da Malaysia passou por um ano bastante traumático. A aviação nacional passou pelo famoso episódio da queda do avião de Dudu Campos, acidente ocorrido em pleno período eleitoral.
04. Nem tudo caiu em 2014. Algumas coisas subiram, como a sonda da NASA que pousou ineditamente em um cometa e captou um som cabuloso extraterrestre. Nessas viagens espaciais, chegaram a anunciar que descobriram uma forma de vida rudimentar fora da terra (ainda em discussão). A NASA tenta provar algo que a população de Quixadá-CE sabe ha séculos: que existe vida fora da terra. Inclusive os ETs vivem passando férias em Quixadá e a NASA tentando sair da terra para achar os caras. Nunca entendi isso.
05. Você que não lembra, mas Satanás achando pouco, fez com que o Facebook comprasse o o Whatsapp em 2014 e condenando a humanidade inteira a nunca mais largar o celular! Ow maravilha! rsrs
06. Tenho que destacar o 2014. Indubitavelmente, foi o ano dos Direitos Humanos! Sé que não. Foi o ano da coroação das maiores violações de direitos humanos que pudemos ver ao vivo na TV. Houve jovem negro amarrado no poste com aquela imbecil da Sheerazaarde apoiando, houve várias mortes por homofobia (com a polícia relativizando os casos). O que dizer dos dois episódios de racismo declarado contra o goleiro Aranha protagonizados pela torcida do grêmio em coro no estádio? O que dizer das dezenas de mortes de jovens negros pelo pais, incluindo a morte do dançarino DG do programa esquenta da Regina Cazé, morto brutalmente pela PM e Regina abafou o caso até hoje? E o Bolsonaro que ameaçou de estupro a deputada Maria do Rosário por duas vezes no plenário? Mas há luta no meio disso tudo, pois o Conselho Regional de Psicologia do Paraná cassou o registro de psicóloga de Marisa Lobo (a "psicóloga cristã"). É inegável que Jean Wyllys, Marcelo Freixo e mais outra dezena de parlamentares (que vou ser injusto aqui por não citar todos os nomes) lutaram e estão lutando contra todo esse absurdo cotidiano estamos vendo no meio do mundo. Por fim, saiu o Relatório da Comissão da Verdade em 2014;
07. Em 2014, terminou o julgamento do Mensalão. Foi um festival de absurdos jurídicos protagonizados pelo "herói" nacional Joaquim Barbosa que quis fazer e fez do julgamento um palco político, em determinados momentos rasgando as leis desse pais para condenar a quem ele não tinha provas suficientes. Em 2014, pipocaram escândalos (trensalão de SP, Escândalos das vendas das estatais do pais na época do FHC, Escândalos na saúde com roubos bilionários em contratos com hospitais, prefeituras que apareciam todo domingo no Fantástico com roubos de recursos que a cidade mal se mantém e a famosa operação Lava Jato da Petrobrás). Alguns destes escândalos não serão apurados e outros serão na medida da conveniência política. A prova disso é que fizeram a maior zoada para abrir a CPI da Petrobras e quando notaram que a Política Federal descobriu que havia envolvidos do PT e do PSDB nos escândalos, mataram a CPI e entregaram um relatório que não denuncia ninguém (neste dia eu ri muito).
08. Em 2014, a NSA (agencia de espionagem cibernética dos EUA continuou invadindo celulares pelo mundo todo), inclusive de presidentes. O mais curioso, foi que rackers roubaram fotos peladas da Carolina Dieckman e vazaram na internet e ela mobilizou a polícia, o ministério público, a Globo e o escambal e a galera foi presa em duas semanas. O looby foi tão grande que apressaram a tramitação do Marco Civil da Internet (emperrada há anos no congresso) e chegou rapidinho para Dilma sancionar. A globo e os deputados batizaram a Lei do marco Civil da Internet de "lei Carolina Dieckman". Agora me diga se eu aguento essa galera?
09. Em 2014, Pepe Mujica teve seu ultimo ano de mandato presidencial e deixou para o mundo vários recados importantes. Legalizou a maconha, regulamentou o aborto e mais uma porção de medidas e declarações desconcertantes para o mundo. Obrigado Pepe!
10. Em 2014, muita gente conhecida e importante morreu. Vamos à lista:
o cantor NELSON NED, o cineasta EDUARDO COUTINHO, o ator malvado de holywood PHILIP SEYMOUR HOFFMAN, o ator PAULO GOULART, o humorista da praça é nossa CANARINHO, ator e mil coisas JOSÉ WILKER, o escritor e mil coisas GABRIEL GARCIA MARQUES, o locutor esportivo e mio coisas LUCIANO DO VALLE , a MÃE DINÁH (sim ela morreu este ano), o cantor JAIR RODRIGUES, o medico do esporte e comentarista OSMAR DE OLIVEIRA, o jogador do internacional de porto alegre FERNANDÃO, o ator e mil coisas ROBIN WILLIANS, precisa falar do Ariano Suassuna? o político EDUARDO CAMPOS, e o gênio ROBERTO BOLAÑOS!

segue o link para caso você não lembre de alguns deles:

11. Em 2014 TEVE COPA DO MUNDO ! (ao contrário do que muitos diziam) e teve GOOOOOOOL DA ALEMANHA! E o futebol brasileiro continua cheio de dirigentes corruptos e ninguém fala nada. O meu time do coração, o Fortaleza Esporte Clube, amarga já cinco anos na terceira divisão e eu sigo acreditando...
12. Em 2014, as trabalhadoras e os trabalhadores domésticos conquistaram o direito de ter sua carteira de trabalho assinada e ter todos os direitos previstos da CLT! Mas, em 2014, aumentaram a quantidade de terceirizações e precarizações de trabalhadores pelo país. O estado do Ceará, então, nem se fala. Pipocaram OS, OSCIP, EBSERH, Fundação disso e daquilo, contratos de trabalho e salários cada vez mais vergonhosos, mas o governo tem comemorado (com sua lógica de ver o mundo) o desemprego mais baixo da história, girando os 5%. Os postos de trabalho aumentaram, mas são postos de trabalho mal remunerados e precários. Nunca houve tantos postos de trabalho análogos à escravidão (Renner, C&A que o digam). Decidam vocês o que deve ser comemorado. Deputados, senadores e vereadores pelo país reajustaram seus salários e benefícios mais uma vez sem consultar a sociedade. O judiciário reajusta seus vencimentos e auxílios também. O governo aperta a concessão de seguro desemprego e outros direitos trabalhistas para economizar e no apagar das luzes do ano aumenta o salário mínimo em cerca de 8%, ficando agora R$788 reais.
13. Em 2014, houve eleições presidenciais e estaduais. Eu votei no Mauro Iasi (PCB) no primeiro turno. No segundo fiz campanha acirrada para Dilma Roussef por veto em Aecio Neves e briguei com meio mundo. Dilma se reelegeu e até o presente momento observo que a presidente não entendeu o recado das ruas, nem das urnas. Farei o que disse que eu ia fazer. No dia seguinte, fazer oposição qualificada, pois a atual conjuntura não me permite dúvidas que o PT já deixou de ser dos trabalhadores há tempos, e Dilma está botando a pá de cal nos suspiros de esquerda que o PT ainda tenta fazer. Também ganhamos de presente o congresso nacional mais reacionário e conservador de todos os tempos. Previsões catastróficas a parte, 2015 não será fácil politicamente.
14. Em 2014, ocorreram coisas importantíssimas que talvez não mudem muito o mundo: Xuxa foi demitida da rede Globo com uma generosa indenização. O Orkut acabou.
15. Em 2014, não foram os santificados pelo Papa Francisco que entraram para a história, mas sim outro tipo de divindade: os JUIZES brasileiros!
16. Em 2014, houve muitos protestos (com mortes inclusive daqueles que cobriam os protestos e daqueles que protestavam). Nunca ficou tão evidente que nossa polícia não sabe o que faz e que é urgente a desmilitarização da PM. Que sigamos protestando por um mundo melhor, mesmo sendo criminalizado por isto, mesmo apanhando por isto. Lutar é um direito nas democracias.
17. Por fim, 2014 (por razões que ainda preciso refletir), EUA e Cuba estão reatando lações após 53 anos.
Um grande abraço meu povo. Um 2015 excelente e de luta para todos nós e vamo simbora!!!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Fim de ano é tempo de avaliações: alguns elementos apresentados pelo presidente do Uruguai, Mujica na Rio + 20 (Brasil)

Caros leitores deste humilde Blog de Esquerda.

Segue o discurso do Presidente do Uruguai, Pepe Mujica, proferido na Rio + 20 (Brasil) em que o referido presidente traz uma excelente reflexão apropriada em qualquer época do ano e em especial nestes tempos de final de ano (tempos de avaliações). Mujica fala a respeito do nosso modelo de "desenvolvimento" que nos distancia cada vez mais daquilo que deveríamos ser uns com os outros: felizes.

Esta é a mensagem de fim de ano do Blog aos seus leitores. Que possamos refletir para de fato fazermos um mundo melhor de se viver no cotidiano. O Espírito natalino e de festas de fim de ano em si não representam o pensamento do autor deste Blog, mas este mesmo autor reconhece que o final de cada ano e sim um período de avaliação de tudo que vivemos e temos feito. Pois que avaliemos! E que avaliemos bem fundamentados.

Como vocês, caros leitores, Pepe Mujica (com legendas em dois idiomas). Assistam e tirem suas conclusões.

Uma abraço, boas festas e até breve!

Diego Mendonça Viana


quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Para Refletir com Darcy Ribeiro: somos tudo isso e mais um pouco.

Caros leitores do Blog Diegopédia, reproduzo abaixo o texto o conteúdo de um texto de autoria do pensador notável Darcy Ribeiro. Este fragmento de texto do Darcy (que faz parte de sua obra O Povo Brasileiro), encontrei em um livro-texto sobre um curso de impactos da violência no campo da saúde que estou a estudar e considerei as reflexões do referido sociólogo brasileiro de extrema relevância e revolvi compartilhar com os interessados. Segue o texto:

"Todos os brasileiros somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual, a mão possessa que os suplicou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sofrida que somos. Descendentes de escravos e de senhores de escravos seremos sempre servos da malignidade destilada e instalada em nós, tanto pelo sentimento da dor intencionalmente produzida para doer mais, quanto pelo exercício da brutalidade sobre os homens, sobre as mulheres, sobre as crianças convertidas em pasto de nossa fúria.

A mais terrível de nossas heranças é esta de levar sempre conosco a cicatriz de torturador impressa na alma e pronta a explodir na brutalidade racista e classista. Ela é que incandesce, ainda hoje, em tanta autoridade brasileira predisposta a torturar, serviciar e machucar os pobres que lhes caem às mãos. Ela, porém, provocando crescente indignação nos dará forças, amanhã, para conter os possessos e criar aqui uma sociedade solidária". (p 120)

Darcy Ribeiro (O Povo Brasileiro, 1995).

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Governo Dilma Veta 30h para Psicólogos e o Que Eu Penso Disto: O Partido dos Trabalhadores há tempos não é dos trabalhadores.

Bom, eu recebi a notícia de supetão, entre um atendimento e outro aqui no trabalho (tive que reavivar meu bom senso e compromisso com meus usuários para terminar os atendimentos com dignidade que sempre fiz) Vi e li o texto do veto das 30h da Psicologia. Fiquei puto, fiquei indignado e sem motivos para cantar uma bela canção e já escrevi um texto enorme. Agora que já almocei, bebi uma água, relaxei e ainda cheio de ódio no meu coração escrevo aos meus amigos mais exaltados: calma galera, não se podia esperar nada de melhor (e olhe que me empenhei pessoalmente e profissionalmente nessa luta para estar falando isso)! Não é o veto que me deixa chateado. São as razões do veto que meu deixam decepcionado. Vamos a uma análise mais detalhada dos fatos:
01. Eu participei de audiência pública, reunião, ato, passeata, pronunciamento de parlamentar, passei de gabinete em gabinete. Tirei até foto com quem eu nao queria pela causa das 30h. Isso fora a militância virtual. Então me considero um sujeito que foi sim derrotado, junto com uma parte expressiva da minha categoria profissional pela incoerência do Parido do Trabalhadores (PT) gestão Dilma
02. Falo de incoerência porque o PT deu justo ganho de causa as 30h dos companheiros assistentes sociais no governo Lula e vetou no governo Dilma os PLs de 30h da Fonoaudiologia e agora da Psicologia. Falo de incoerência, pois os argumentos das categorias são semelhantes em mérito (saúde do trabalhador que faz jus a redução de carga horária em função do trabalho desgastante e que possui muitas vezes remuneração incompatível com a exigência que o trabalho solicita do profissional). Falo de incoerência porque as razões do veto ao PL das 30h da Psicologia e as exigências contidas na razão do veto nao foram cobradas do PL dos companheiros assistentes sociais. falo de incoerência porque nas políticas públicas brasileiras psis e Assistentes sociais trabalham nos mesmos serviços públicos com disparidade de carga horaria agora legitimadas por veto presidencial, legitimando assim a disparidade de classe de trabalhadores;
03. Falo de incoerência pois os governos do Partido dos Trabalhadores (ironicamente) legitimam disparidades de classe inaceitáveis à História do próprio movimento trabalhista brasileiro, pois legitima a falta de isonomia de salários em favor da classe médica, permitindo que estes trabalhadores ganhem 10 vezes mais do que os demais trabalhadores dos mesmos serviços públicos e muitas vezes com metade da carga horária dos demais trabalhadores. Para isso, não existe argumento de austeridade econômica com as contas públicas. Agora, com este ato, o governo petista de Dilma Rouseff legitima a falta de isonomia de carga horária entre assistentes sociais e psicólogos nas mesmas políticas públicas (já que os os dois profissionais são estruturantes de grande parte das políticas sociais, de educação e de saúde deste país).
04. Quando a categoria de Psicologia escolheu a luta nacional por 30h, foi partindo do princípio que uma luta por piso salarial era uma luta facilmente vetável, justamente pelo argumento do impacto econômico. Diversas pesquisas feitas, apontam, (inclusive aqui no estado do Ceará) que os psicólogos são extremamente mal renumerados. Esse privilegio nao é da nossa categoria, sabemos disto, mas é sim fundante dos processos de precarização aos quais estamos submetidos. A redução da jornada para 30h do ponto de vista do impacto econômico para as políticas públicas é um argumento cínico, pois os profissionais já são mal pagos. Que super impacto seria esse nas contas públicas? Vamos discutir lei de responsabilidade fiscal com a quantidade de cargos comissionados que existe no âmbito da gestão pública presidente Dilma? Vamos falar de economia? É brincadeira com o trabalhador. E olhe que eu acredito que estou aqui a escrever para reclamar migalhas...
05. O mais interessante é a preocupação do governo com o setor privado. Claro, por que não teria preocupação, não é? Os planos de saúde pagam absurdos mizeráveis por cada atendimento, cobram um quantidade de atendimentos sem precedentes e isso o próprio governo não regula. Aliás, quando o governo regula, é para manter a precarização (como acabou de fazer). Preciso falar das terceirizações?
06. Depois eu pergunto. O que é o Ministério da Saúde na gestão Dilma? Sob a égide do ex ministro Alexandre Padilha eu vi todas as causas progressistas no campo das profissionais do sexo, no campo LGBTT, na política de prevenção do preconceito e apoio aos pacientes com HIV/AIDS/Hepatites Virais (com exceção do programa de medicação) serem barradas porque a presidenta Dilma cedeu a pressão da bancada evangélica e o Ministro Padilha assinava embaixo. Eu vi a precarização dos trabalhadores ser cada dia mais legitimada por meio de todos os programas vinculados ao MS (mais médicos, PROVAB, PMAQ, residências e outros). Sem vínculos trabalhistas, todo mundo bolsista, sem direitos a quase nada do que defende a CLT e outros estatutos. Pois bem esse mesmo MS certamente foi definitivo para veto das 30h. Palmas para eles que ainda cinicamente usam o argumento econômico. Dilma e Padilha sabem quanto ganha um psicólogo nos NASF e nos CAPS para trabalhar 40H? Eles sabem, mas nao querem se indispor com prefeitos, afinal médicos tem capital político na nossa colônia para se fazer negociatas municipais, psicólogos não.
07. Por fim, para maior tristeza ainda, eu sei que a maioria da minha categoria é de direita (não são tipo o abestado que aqui vos escreve que é de esquerda e ainda é comunista, acredita nos valores coletivos e luta pelos e com os trabalhadores). Não vai se mobilizar para ir a Brasília pressionar os parlamentares (inclusive da base aliada) para derrubarem o veto. Meus colegas farão pior. Daqui a 4 anos serão cerca de 24 mil votos de psicólogos (e suas famílias) a favor do PSBD.
O veto poderia ter sido parcial, o governo poderia ter negociado até escalonamento de carga horária como está tentando fazer com os enfermeiros, mas ficar em silêncio todo este tempo para vetar com estes argumentos questionáveis não dá. O PT que tenha todos os seus defeitos (e são muitos) e sua virtudes (todas discutíveis), mas eu, Diego Mendonça Viana, psicólogo, jamais serei compreensivo com decisões governamentais que favorecem a precarização dos trabalhadores. Aprendi desde cedo na minha vida porque vi isso todo ano na minha família e na minha vida: aos patrões a Lei.Aos trabalhadores, a rua para fazer com que os patrões nunca esqueçam das leis. Quando um governo nega aos trabalhadores a lei que os permite se resguardar da opressão trabalhista, este governo declara publicamente que não é dos trabalhadores. Este governo é dos patrões.
E nada mais tenho a declarar sobre as 30h da Psicologia e nem sobre o veto presidencial do Governo Dilma.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Esta máxima nunca foi tão clara: "o problema não é a seca, mas a cerca".



Certamente, esta é uma das imagens mais fortes e chocantes (a carcaça de uma animal morto por motivos de seca e fome) de quem frequenta o sertão do nordeste brasileiro, em especial o sertão cearense. A segunda cena mais impactante é ver o agricultor familiar chorando ao ver esta cena. 

Nada, simplesmente nada, justifica as duas cenas. Basta um olhar rápido em qualquer cidade em que se percebe estas duas cenas acontecendo para se notar que algo de muito errado acontece neste país a anos e, no final da cadeia social, quem sofre é a vaca morta e o agricultor: este algo chama-se desigualdade crônica e perversa.

Isto que digo parece discurso batido e piegas, mas não o é. No mesmo município em que o gado morre de fome e de sede e o agricultor é obrigado a beber água contaminada em virtude da "estiagem" dos recursos hídricos, é possível perceber que as elites locais não estão passando mal assim. Continuam andando em carros importados com ar-condicionado, com suas fazendas produtivas, fazendo algo mais doloroso para nossa sociedade: distribuindo favores, cesta básica, ração, dinheiro e outros presentes "em função da situação calamitosa que a natureza trouxe para todos nós".

Ora, se a seca é para todos, parece-me estranho que a natureza escolheu logo o agricultor para fazer dele seu principal afetado. Logo o agricultor que cuida mais da natureza, que vive dela, que possui uma relação de amor e ligação visceral com a mãe natureza. Como sou comunista e acredito que a natureza não seria tão injusta com aqueles que dela necessitam, eu acredito em outra teoria bem antiga: a seca flagela uns para dar lucro a outros.

As elites locais lucram política e economicamente com a estiagem. É fácil perceber, basta dar uma volta em qualquer interior (não vou nem citar o exemplo das cidades, pois isto daria outro artigo) do nordeste. Vende-se tudo a quem mais precisa nos momentos de calamidade: vende-se alimento "fiado" a preços maiores para que a dívida fique impagável, vende-se água contaminada, vendem-se poços profundos a preços exorbitantes, vendem-se favores e vende-se a dignidade do trabalhador rural. Basta procurar que rapidamente se saberá da máfia da benda de poços profundos protagonizada pelas elites que dominam prefeituras pelo sertão adentro. Ninguém investiga e nem isto vira notícia porque crimes da estiagem nao vendem jornais como vendem desvios da Petrobrás. 

O governo que possui parcela grande da culpa (este é o termo mais adequado) deste processo, alega eternamente que está investindo para melhorar a situação. Mudou de discurso ao longo dos tempos. Parou de dizer "combate a seca" para "convivência com a seca". Eu pergunto: convivência de quem? de que? como?. Fiz uma busca rápida na internet e encontrei algumas matérias jornalística que afirmam que o estado do Ceará tem investido alguns milhões "nesta questão". Contudo, quando comparo este mesmos milhões com outros milhões de incentivos a indústrias oportunistas de estruturas pré-moldadas (tão fugazes quanto as chuvas), percebo quanta diferença de investimento de milhões existe na "estiagem de recursos" para investimentos. Concluo, então, que a conivência com estiagem nunca foi prioridade dos governos (no máximo hoje se gerencia tragédias e calamidades). Afinal a cerca (propriedade privada concentrada na mão de poucos) é lucrativa. A seca é muito mais. 

Até quando ficaremos cantando a súplica cearense? Por mim, já podíamos deixar de cantar hoje.

Súplica Cearense 
Gordurinha & Nelinho 


Oh! Deus, perdoe este pobre coitado
Que de joelhos rezou um bocado
Pedindo pra chuva cair sem parar

Oh! Deus, será que o Senhor se zangou
E só por isso o sol se arretirou
Fazendo cair toda chuva que há

Senhor, eu pedi para o sol se esconder um tiquinho
Pedi pra chover, mas chover de mansinho
Pra ver se nascia uma planta no chão

Meu Deus, se eu não rezei direito o Senhor me perdoe, 
Eu acho que a culpa foi
Desse pobre que nem sabe fazer oração

Meu Deus, perdoe eu encher os meus olhos de água
E ter-lhe pedido cheinho de mágoa
Pro sol inclemente se arretirar

Desculpe eu pedi a toda hora pra chegar o inverno
Desculpe eu pedir para acabar com o inferno
Que sempre queimou o meu Ceará


segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Chegamos lá. O que vira assunto nesta sociedade...

Não se fala em outra coisa na face da terra. A nova versão do Whatsapp (que permite que a pessoa que enviou a mensagem saiba quando a que recebeu a mensagem de fato a viu) movimentou o mundo. Concretiza-se mais uma coisa que considero interessante neste mundo atual mediado por redes sociais: a hipocrisia sistemática da exposição.

Esta hipocrisia funciona mais ou menos assim: todos querem saber da vida dos outros em riqueza de detalhes, mas só podem saber da minha vida depois que eu editar o melhor de mim para exibir e compartilhar.

O sumiço de 43 estudantes mexicanos, a derrubada de um presidente ditador em Burkina Faso ou os elogios feitos pela ONU sobre as missões de saúde de Cuba em outros países para ajudar na questão do EBOLA; nada disso virou notícia nas time-lines. Mas a versão do whatsapp virou...Chegamos lá - mais perto de nossa decrepitude social.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A Respeito da Lucratividade Trabalhista da Pobreza e da Miséria: o cuidado compensatório pela convivência com "gente vulnerável"

Eu sempre considerei estranho que os profissionais das equipes de saúde da família (médicos, enfermeiros, dentistas), excluindo-se neste critério os profissionais de nível médio e técnico, tais como os auxiliares e técnicos de enfermagem, auxiliares de saúde bucal e os agentes de saúde, enfim que os primeiros citados, em Fortaleza e em outros contextos do país, recebesse adicionais no seu salário por trabalharem em áreas de risco. 

Ora, um primeiro ponto estranho desta história e a assimetria de direitos, pois os profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, profissionais de Educação Física, nutricionistas e outros mais) não recebem, via de regra, estes mesmos "incentivos". E não posso esquecer que, majoritariamente, os profissionais de nível médio não recebem tal "incentivo".

O calculo destes famosos "riscos" são feitos em relação a critérios da defesa civil e alguns critérios das ditas vulnerabilidades sociais. Estes critérios são elaborados para estratificar as fragilidades dos territórios de atuação das equipes de saúde. No entanto, o que me motiva escrever este texto consiste no fato de a Prefeitura de Fortaleza ter feito em 2005/2006 (bem como outras regiões do Brasil terem feito o mesmo) foi estabelecer maior remuneração para quem fosse lotado nestas regiões. Isto é um absurdo!!! Ora, defende-se a lei 8080/90 a Lei 8142/90, bem como uma vasta literatura que prega a aproximação com os territórios, estabelecimento de vínculo e o primeiro passo para estabelecimento deste vínculo e utilitarista-econômico-assimétrico. Não estou afirmando aqui que todos e todas os (as) profissionais se vincularam aos seus territórios por este motivo, mas com certeza uma maioria expressiva o fez por isso e, devo admitir, que o SUS foi assassinado neste dia em que os profissionais de saúde foram barganhados economicamente para lidar com a violência, com a pobreza e com as pessoas dos territórios. 

Vendemos a pobreza e pedimos desesperadamente que os profissionais fosse dar uma "força" para estas comunidades até surgir a primeira oportunidade de transferência. Assim legitimamos o pior: a venda do sofrimento (com raríssimas exceções)

É por essas e outras que não aguento quando vejo profissionais reclamarem de privilégios de médicos (que é assunto para debates em outros momentos), de privilégios mil, mas esquecem do privilégio fundamental: a venda de sua assistência em saúde para os pobres que podem lhe trazer algum "perigo".

domingo, 12 de outubro de 2014

Saúde e Meio Ambiente: um impasse fundamental e um imperativo para as políticas de território.

Existe um impasse, antigo e estrutural, nas políticas de saúde e nos debates sanitários. Este impasse é fundamentalmente o ambiental. Digo isto porque não é sequer necessário muito esforço conceitual e acadêmico para revisar as cartas e relatórios das conferências de saúde e de conferências com temáticas políticas afins para notar que mais da metade do que é proposto toca direta, ou indiretamente, na questão ambiental.

Ora, em especial as políticas de território no Brasil, a saber a Saúde da Família e a Política de Assistência Social e seus trabalhadores, veem, cotidianamente suas ações atingirem pouquíssimo impacto positivo nas comunidades em que estão inseridas. Esta impotência,além das dificuldades de gerenciamento de pessoa e questões de estruturação das políticas, é uma atestado da incapacidade destas políticas de pensarem ações e intervenções coerentes no meio ambiente das comunidades em que vivem. Digo isto, pois não considero relevante discutir saúde e meio ambiente por meio da instalação de cestos de lixo coloridos para suposta coleta seletiva de materiais. Isto não é discutir meio ambiente. Recomendo inclusive para os leitores mais criteriosos a seguinte leitura da professora Minayo: MINAYO, Maria Cecília de Souza. Saúde e ambiente: uma necessária reflexão. Inf. Epidemiol. Sus, Sept. 2002, vol.11, no.3, p.113-114. ISSN 0104-1673.

Sempre que se vai discutir meio ambiente (qualidade da água, saneamento básico, gerenciamento do lixo, convivência com os animais domésticos ou não, a questão dos terrenos baldios e outras questões) nos territórios com as equipes (saúde, escolas, assistência social e outras) cai-se no famoso IMOBILISMO ESTRUTURAL PARALISANTE. Esta condição de definição chique na verdade é o famoso "lavar as mãos e deixar para lá pois não poderemos resolver isto". Eis aqui minha crítica principal e fundamental ao conjunto dos trabalhadores (porque não espero o melhor dos gestores públicos e privados) que caem no reclamismo conveniente e de cruzarem os braços diante de uma possibilidade concreta e potente de melhorarem, junto com a comunidade, uma condição que impacta diretamente nos trabalhos nas unidades de saúde e em outros espaços.

Não é necessário ir em um barco do Greenpeace e fechar uma plataforma de petróleo, para ser um ativista ecológico. Não é necessário fazer o saneamento básico com as próprias mãos para fazer algo coerente do ponto de vista ambiental que impacte diretamente na saúde. Faço estas comparações absurdas, porque isto habita o imaginário de muita gente.

Eu, particularmente, fico indignado quando eu vejo umidades de saúde, CRAS e escolas organizando  de combate ao mosquito da dengue, pois estas caminhadas em certa medida são o atesto da hipocrisia ambiental nas comunidades. Como se organiza caminhadas (com as crianças e adolescentes, professores,, profissionais de saúde, lideranças comunitárias) se este tema não é trabalhado no cotidiano? Na verdade, apenas os bravos agentes de endemias e agentes de saúde estão preocupados no cotidiano com a dengue e quando as famosas epidemias acontecem, a sociedade entra em pânico e, misteriosamente, todos focam preocupados com a dengue. Assim não dá!

Não me deterei neste texto apenas para acusar, muito pelo contrário isto não faz parte da minha proposta política enquanto trabalhador e nem da minha proposta política de vida. Aponto que existem sim caminhos possíveis para melhorar esta condição de impasse. Mas todas estas propostas implicam necessariamente a abdicação do lugar de conforto e uma posição ativa na vida, mesmo diante das dificuldades estruturais (que meu críticos chamam de heroismo idealista). Neste sentido, por que não se tenta (uma, duas ou dez vezes) organizar fóruns de discussão, realização de abaixo assinados com reivindicações ambientais do território? Por que não se organiza caminhada até a sede da prefeitura, fazendo muito barulho, entregando material para os demais moradores saberem da causa, conversando com as pessoas e, ao chegar na prefeitura só sair quando conseguir falar e negociar com os responsáveis pelo saneamento básico? Enfim, por que n~çao paranos de reclamar e vamos a luta?

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Saúde da Família: uma proposta de atuação em saúde cada dia mais sabotada no vale tudo das disputas na atenção primária em Fortaleza-CE.

Não é de hoje que tenho percebido que a gestão do adorável (na falta de outro adjetivo irônico mais adequado) prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio ( a quem chamo de Bob Cloud) vem desmontando sistematicamente a proposta de atuação e as condições de atuação das equipes de Saúde da Família do município. Ora, se você se considera um leigo completo nas discussões sobre o que vem a ser a proposta de atuação em saúde da família, recomendo a leitura do texto "A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA NO BRASIL E A SUPERAÇÃO DA MEDICINA FAMILIAR", de autoria do professor Odorico Andrade da UFC de Sobral-CE e colaboradores. Artigo disponível no seguinte link: http://sanare.emnuvens.com.br/sanare/article/view/117 

Basicamente, a Estratégia Saúde da Família (ESF) é uma das formas de se fazer atenção primária ( a atenção realizadas na ponta do sistema de saúde, nos territórios, nas comunidades e bairros) e para se fazer ESF é preciso vínculo, continuidade do cuidado e realização de uma atenção à saúde que envolva aspectos do cuidado que vão muito além da clínica curativa e da assistência direta ás doenças. Ou seja, atividades de prevenção de doenças e promoção de saúde, atividades articuladas com os modos de vida das comunidades são fundamentais para alcançar melhores indicadores de sáude e melhores condições de produzir a vida. 

Feitos estes esclarecimentos iniciais (importantes), Fortaleza iniciou um processo de construção de unidades de saúde da família (USF) e de equipes orientadas para este modelo de atenção (com larga comprovação epidemiológica de bons resultados no mundo todo). Este modelo se manteve (com muitas dificuldades estruturais e de gestão) nos dois mandatos da ex-prefeita Luizianne Lins (PT), mas estava em processo de expansão e ajuste. No meu entendimento, o governo do PT fez um opção ousada para Fortaleza e se perdeu no meio do caminho para fortalecer esta mesma opção ousada. Foi uma decisão corajosa abrir concurso público daquela magnitude, construir e reformar unidades de saúde (os conhecidos postos de saúde) e depois, por falta de entendimento e clareza de gestão, entregar a saúde da família sucateada  para a nova gestão de Bob Cloud. Mais uma vez faço aqui aquela análise corriqueira sobre os méritos dos PT: todos os méritos devem ser dados à gestão municipal petista, mas em igual proporção as críticas pelo modelo de gestão escolhido para a saúde da cidade. 

Pois bem, Bob Cloud assume e, como a maioria dos gestores brasileiros sem compromisso com o sentimento de república neste país, resolve desfazer tudo e iniciar grande "pacote de obras" para reformar as unidades de saúde. Algumas inclusive recém reformadas pela antiga gestão. Um absurdo com dinheiro público. Bob Cloud "criou" Unidades de Atenção Primária em Saúde (UAPS) em que o foco é o pronto atendimento, a consulta clinica e a demanda espontânea. Com esta medida, acrescida da outra mais absurda de proibir os profissionais da equipe de se ausentarem da unidade de saúde para fazerem visitas domiciliares e grupos de promoção de saúde (segundo relatos de diversos profissionais), Bob Cloud matou a saúde da família por insuficiência respiratória, por assim dizer. 

Agora, as equipes atendem de 7 da manha às 19h. As unidades ficaram todas trabalhadas na elegância e nos vidros. Parecem mini-hospitais. A estética (no pior sentido do conceito de estética) venceu! Bob Cloud que se reivindica especialista em saúde pública, que possui um artigo escrito com o professor Odorico e com a professora Ivana (ambos da UFC Sobral-CE) no Tratado de Saúde Coletiva (publicação de referência na área de saúde) justamente sobre atenção primária e defendendo a saúde da família como modelo de saúde; enfim, tudo isso para dizer que Bob Cloud não cabe em si de tantas contradições sistêmicas. Esta última inclusive é uma prova factual!

Certa vez levantei esta questão em uma das aulas do mestrado em saúde da família que estou cursando e um dos meus colegas disse que não se pode acabar com a saúde da família como modelo orientador, pois está na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) e que possui financiamento específico e outros argumentos do tipo. Eu rebati dizendo que não, pois a atenção primária nunca esteve tão em disputa e não há nada que amarre legalmente este modelo, a saúde da família (um modelo socialista que eu acredito como modelo de saúde). Digo mais, a PNAB é genérica e fugidia na hora de definir seu modelo prioritário de atenção a saúde, o financiamento pode ser facilmente desviado de função, pois talvez não passe pela cabeça do meu colega de mestrado que os gestores públicos brasileiros cadastram projetos, contratam equipes para inglês ver e, no cotidiano, subvertem as políticas oficiais e as fazem do jeito que lhes convém. O mais entristecedor é ver a população assistindo a este desmonte aplaudindo pinturas de paredes, salas com ar-condicionado, jardins novos das unidades de saúde.

Um dia a gente chega lá na elaboração de uma cidadania menos clientelista e mais crítica. Eu que não ficarei parado assistindo o desmonte da saúde da família no meu município para celebrar contratos com empreiteiras e empresas de terceirização, afinal a saúde desta cidade e deste país estão acima dos acordos de financiamento de campanha feitos por Bob Cloud e por seus colegas.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Considerações de Nossa Mediocridade Social: Episódio I - Estamos Formando Jovens Úteis

Eu, em semelhança ao Paulo Henrique Amorim e a tantos outros entusiastas do Brasil, não sofro do complexo de vira latas tão bem descrito poe Nelson Rodrigues e atualizado por outros personagens de nossa História. Apesar de ser um entusiasta convicto deste país, não consigo me furtar de algumas questões que tenho chamado de Nossa Mediocridade Social. Mediocridade esta que não é privilégio da sociedade brasileira, mas que tem habitado o presente como se não houvesse alternativa ou caminho de fuga.

Estamos formando jovens úteis ao sistema vigente. E o pior, jovens convencidos de que só existe esta alternativa. Evidentemente que toda generalização é uma perigo de várias faces, pois este autor acredita que a luta de classes existe e se faz viva no nosso cotidiano. Portanto, não posso acreditar que um jovem formado nas comunidades mais pobres de minha cidade possua as mesmas questões e os mesmos dilemas dos jovens que vivem nos bairro mais abastados de Fortaleza-CE.

Mesmo considerando risco da análise, tenho percebido nas pastelarias, lanchonetes, paradas de ônibus e barzinhos neo-cult algumas características nada interessantes para juventude. Não quero aqui advogar saudosismos desnecessários à juventude das décadas de 1960, 1970 e 1980 que, cada uma a seu modo e com as condições do seu tempo, fizeram suas revoluções, mas tenho me preocupado com o que veio depois de 1990. Ou seja, falo de minha geração (já que vim ao mundo em 1988) e de outras gerações próximas.

A década de 1990, no mundo e no Brasil, prestou um grande desserviço à juventude. As crises instauradas pelo neoliberalismo trouxeram um contexto que eu chamo da "década da desesperança". Se você acha que é clichê falar esta expressão porque você considera que isto é coisa de gente de esquerda que ficou desatualizada no tempo, cuidado! Esta é a primeira característica da juventude útil: o desconhecimento e o relativismo histórico. Quando se abria o jornal na década de noventa, só o que se via era crise, crise, recessão e por incrível que pareça, é a suposta "estabilidade" dos anos 1990, com repetidos episódios de "passar o pires da vergonha" ao Banco Mundial que a direita brasileira se vangloria de ter feito alguma coisa útil para este país. Quando eu vejo adultos-jovens e jovens defendendo esta teoria (sem futuro), eu tenho muita pena. Uma juventude que estudou História para esquecer e não para lembrar criticamente. Uma Juventude que estudou geografia para desconhecer o próprio país e conhecer em riqueza de detalhes a Europa e os EUA. Não me peçam para esquecer as dezenas de bizarrices que tive a oportunidade de ver na televisão e nas redes sociais da extrema ignorância de estudantes do Sudeste do país, sem nem sequer mencionar os preconceitos violentos. Tratemos aqui apenas da ignorância geográfica na qual tudo que fica fora do sudeste é Paraíba e não podemos esquecer daquele enorme estado que fica lá em cima do mapa chamado Norte! Neste sentido, temos aqui a formação de jovens úteis para a ignorância geopolítica, bons reprodutores e leitores de manchetes, bem como a formação de jovens úteis aos discursos de ódio, aderidos por tabela sem nem sequer perguntar de onde vieram. O importante é odiar alguém.

Uma coisa que não entendo, é como um jovem neste país pode ser de direita (se reconhecer e se reivindicar assim) com 500 e tantos anos de exploração das terras tupiniquins. Jovens com pensamento conversador de direita em todas as classes sociais (muito pobres, pobres, classe média endividada, classe média elite dos serviços públicos, classe média metida a rica sem os meios de produção e os Ricos com R maiúsculo). Ora, o pensamento de direita tupiniquim, não é o pensamento de direita canadense (este que é conservador mas a favor da distribuição mais equânime de serviços públicos e garantias de direitos). O pensamento de direita brasileiro legitimou e legitima a brutal desigualdade deste país e, portanto, em sã consciência, por respeito histórico aos indígenas, aos negros (que foram os mais dizimados) e ao conjunto da população brasileira, aderir ao pensamento de direita brasileiro é quase um atestado de insanidade histórica. Devo ressaltar, por força dos meus críticos, que a direita brasileira não é uma só, tal como as esquerdas, mas destaco que, em minha análise, todas as "direitas" possuem um mesmo objetivo em comum (já não posso dizer o mesmo das esquerdas): fazer o bolo crescer primeiro para depois dividir, que o mundo mesmo com as desigualdades deve ser governado pela iniciativa livre ou pouco regulada do mercado, que não importa nossas desigualdades anteriores, pois com mérito, esforço e empreendedorismo, todos podem chegar lá. Só esqueceram de dizer que não vai ter vaga para todo mundo para chegar lá. Considerando tudo isto, as classes médias produziram seus jovens de direita criando-os nos aquários chamados condomínios, juventude esta que eu chamo de "juventudes do condomínio". Eu fiz parte, um período até longo de minha infância e adolescência desta proposta de juventude. "Protegida" da violência e do contato com "gente diferenciada" como bem definiram os moradores de Higienópolis em São Paulo. Nas periferias, admiração pela direita, pela extrema direita diga-se de passagem, ganha corpo com a admiração da "força" policial, dos grandes padrinhos "amigos" e "bem feitores" das comunidades. De certa forma, a nossa classe política de direita admirada pela juventude desavisada sabe disto e tenta incorporar estas duas facetas e tenho assistido em vários lugares à ascensão de uma juventude cade vez mais totalitária. Eu não possuo dados precisos se esta parcela da juventude é maioria ou minoria, mas eu percebo que ela tem crescido. Ela esteve nas manifestações de junho de 2013, nas manifestações da Copa de 2014, ela tem estado nos estádios de futebol e na internet. E disse a que veio: detestamos negros, gays e ateus.

Uma juventude cada vez mais tomada pelo pensamento fundamentalista religioso (católico e evangélico). Não estou dizendo que os jovens devam ser sujeitos desprovidos da espiritualidade que queiram e considerem melhor, mas o fundamentalismo chega ao limite da ignorância sistêmica. Quando eu vejo jovens mais fundamentalistas do que as instituições que supostamente eles estão representando em seus atos de fé, como se pode ver no manifesto de pastores de apoio a descriminalização do uso da maconha: http://noticias.gospelmais.com.br/pastores-criam-manifesto-favoravel-descriminalizacao-drogas-55362.html (cerca de 100 pastores assinam o manifesto) e como se pode ver no manifesto de apoio da igreja católica no combate á violência contra a comunidade gay: http://noticias.band.uol.com.br/cidades/noticia/?id=100000680257&t. Enfim, quado eu vejo os jovens mais retrógrados que as instituições do seu tempo, eu tenho certeza que esta juventude é útil ao fracasso de todas as propostas de fraternidade fundadas pelas religiões e práticas transcendentes.

Não posso acreditar em uma juventude que possui como projeto majoritário de vida o Consumo. Temos aqui uma juventude útil ao mercado, sem grande críticas, pois uma camisa da Lacoste é uma Camisa da Lacoste (independente da classe social de que vem o jovem).

Estamos formando jovens úteis como mão de obra barata ao mundo do trabalho. Jovens, cada vez mais, saem dos banco de universidades com um pensamento mecânico e utilitarista. Estamos formando técnicos em mediocridades, bons executores, eficientes, produtivos e completamente desconectados do contexto social do trabalho ao qual estão inseridos.

Tudo isso parece uma grande catástrofe juvenil. Mas ora, se eu estivesse aqui para trazer apenas o dissabor do mundo e para dizer que não temos alternativa estaria eu me igualando aos desesperançosos dos anos 1990. Há saída e ela possui um caminho bem interessante: passa por ler mais de uma fonte de informação, por questionar as verdades (geralmente prontas e mastigadas) e o incentivo à cultura da rebeldia competente como defende Boaventura de Sousa Santos. As fraturas nos sistemas são produzidas por rebeldes competentes e enquanto formarmos jovens conformados, estaremos formando exércitos de repetidores esperando o próximo sucesso do Sertanejo Universitário.


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Greve na Universidade Estadual do Ceará (UECE): a repetição de algo absolutamente "inédito" - a naturalização do absurdo em 10 motivos

A Universidade Estadual do Ceará (UECE), fundada em 1975, hoje é uma das instituições formadoras de profissionais, ao lado das também universidades estaduais Universidade Vale do Acaraú (UVA) e Universidade Regional do Cariri (URCA), mais importantes do estado do Ceará. Além de formar profissionais, a UECE e suas parceiras é pioneira na pesquisa e na extensão universitária. Esta universidade teve, assim como as demais universidades deste estado da federação brasileira,  na luta pela redemocratização do país e pela sua função social maior: a formação de conhecimento de qualidade para o estado do Ceará e para a região Nordeste. Esta instituição conta com aproximadamente 20 mil estudantes e 800 professores espalhados por 12 centros e faculdades, que oferecem 77 cursos de graduação presenciais e a distância, 27 mestrados, nove doutorados, 154 grupos de pesquisa atuantes em 138 laboratórios e 57 projetos de extensão (Dados de A UECE em números, 2013, disposnível em: <http://www.uece.br/uece/dmdocuments/UECE_numeros_2013_A.pdf>). 

Pelos dados acima apresentados, eu não tenho dúvidas que a UECE é uma das instituições universitárias mais importantes deste estado. No entanto, apesar de não ter sido aluno desta referida universidade, eu tenho assistido e me solidarizado com o sofrimento dos estudantes, docentes e funcionários técnico- administrativos daquela universidade. Ao ser declarada a segunda greve em menos de dois anos, eu tenho certeza absoluta de que chegamos a um nível de estrangulamento absurdo na educação do estado do Ceará. Explico o porque desta afirmação tão contundente:

01. A UECE é uma das instituições que sustentou a formação de profissionais para atuação no interior do estado do Ceará muito antes da expansão da Universidade Federal do Ceará e da criação de outras universidades federais no interior do Ceará (tais como a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira-UNILAB criada em 2010 e a Universidade Federal do Cariri - UFCA ciada em 2013). 

02. A UECE sustentou sozinha, ou de forma mais robusta,  a formação e a qualificação de boa parte dos licenciados (professores de diversas áreas do conhecimento) no estado do Ceará. Este estado tem uma dívida histórica e pública com a Universidade Estadual do Ceará no quesito formação de professores (principalmente para educação fundamental e para o ensino médio deste estado). Na minha formação escolar fundamental e no meu ensino médio posso assegurar tranquilamente que meus professores eram 60% formados pela UECE. Professores estes, que com sua qualificação, foram responsáveis pelo menos por metade do que sou hoje na minha vida! Eu devo a UECE isto na minha vida. Uma dívida de gratidão e de responsabilidade por ter sido formado por excelentes professores que tive. Os excelentes professores que se formaram sem apoio algum, sem bolsa de pesquisa, sem estrutura, sem biblioteca que atendesse as necessidades e passando por problemas semelhantes aos que passam hoje a comunidade universitária da UECE. Alias, tenho certeza que alguns aspectos pioraram no presente.

03. A UECE é uma universidade historicamente sucateada pelos diversos governos coronelistas que nós cearenses insistimos em eleger. O Ceará possui uma relação mal resolvida com o coronelismo que perpassa desde o casebre mais humilde de nossas favelas aos imponentes Flats do Meireles em Fortaleza. Não conseguimos até o presente momento da História, pensar e fazer qualquer coisa que fuja à lógica dos coronéis. Antes coronéis a cavalo, hoje coronéis empresários de Hilux. A UECE é vítima fundamental das políticas coronelistas. Afinal, para os coronéis nunca houve importância alguma para a educação, a não ser para os seus familiares (de preferência fora do país). Eu não tenho notícias (posso até estar redondamente enganado) que filhos de governadores tenham se formado pela UECE. Se formaram-se, não houve qualquer notícia do fato.

04. A UECE é uma das instituições pioneiras no estado em pesquisa, apesar de todas as suas dificuldades estruturais. Existe uma pesquisa em específico que eu não me conformo de não seguir avançando por falta de recursos: a pesquisa da vacina contra dengue! A UECE já esteve muito próxima de ser a única Instituição de Ensino Superior a descobrir uma vacina contra a dengue. Saber que isto não avança por falta de apoio e de recursos é algo revoltante! Estamos muito próximos de uma revolução sanitária nos países tropicais para combater uma doença (da pobreza) que mata muitas pessoas, com pioneirismo brasileiro e cearense e a pesquisa não avança por falta de recursos. A matéria a seguir (2008) não me deixa mentir quanto ao fato:

O Ceará é o único Estado brasileiro a desenvolver uma vacina tetravalente à base de proteína contra a dengue

Pesquisadores do Laboratório de Bioquímica Humana da Universidade Estadual do Ceará (Uece) desenvolvem, desde 2003, uma vacina tetravalente contra a dengue. A falta de recursos financeiros está impedindo o avanço das pesquisas, de acordo 
com
 a coordenadora dos Projetos do Vírus da Dengue da Uece, Maria Izabel Florindo Guedes. Ela calcula que seriam necessários R$ 500 mil para equipar o laboratório e realizar as outras etapas da pesquisa para obter a vacina.

Segundo a doutora em Bioquímica, os resultados obtidos até o momento são promissores para a produção de uma vacina tetravalente contendo em sua estrutura uma proteína comum aos quatro tipos do vírus da dengue. “Se recebêssemos apoio, poderíamos produzir a vacina em cinco anos ou até em menos tempo”, argumenta Izabel Guedes.

Em 2006, os pesquisadores da Uece iniciaram os testes em camundongos e coelhos, 
com
 bons resultados. “Em animais a proteína induz a produção de anticorpos que bloqueiam in vitro o vírus da dengue”, explica a doutora em Bioquímica. Apesar dos benefícios que a vacina trará à população, Izabel afirma que a falta de infra-estrutura do laboratório tem sido o grande problema para o desenvolvimento da vacina e de outras pesquisas com a dengue.

Ela entende que a produção da vacina contra essa doença representa um método preventivo à disposição da população no controle da enfermidade, que tem provocado danos irreparáveis, com diversas perdas de vidas humanas e ocasionado sofrimento para indivíduos, famílias e comunidades cearenses, não só brasileiras, mas também de outros países.

Os pesquisadores do Laboratório de Bioquímica Humana não possuem uma sala de cultura de células para que os testes possam ser realizados com segurança. Izabel Guedes admite que eles trabalham em condições bastante precárias.

Outra carência apontada foi a ausência de uma sala de Reação em Cadeia Polimerosa (PCR) para testes do DNA do vírus. “Hoje temos uma salinha, onde enfrentamos problemas de contaminação de outros microorganismos. Precisamos de um ambiente limpo para não haver contaminação”, avalia a pesquisadora. O laboratório também não dispõe de uma casa de vegetação para guardarem os transgênicos.

Outro agravante, segundo ela, é a falta de recursos financeiros que impedem o avanço das pesquisas. “Até o momento, recebemos apenas R$ 55 mil, fomentado pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Banco do Nordeste do Brasil”.

ESPERANÇA
Resultados obtidos são promissores

Apesar dos esforços dos cientistas, ainda não há nenhuma vacina eficaz contra a dengue. A coordenadora do Laboratório de Bioquímica Humana da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Izabel Guedes, diz acreditar que os resultados obtidos até agora pela equipe de pesquisadores são promissores em relação à possibilidade da produção de uma vacina com base em proteínas (peptídeos imunogênicos) do envelope viral do vírus da dengue.

Segundo Izabel, a vacina, além de não causar danos para a saúde humana por não induzir a doença, também parece ser a única proposta que pode impedir a entrada do vírus na célula do hospedeiro.

A pesquisadora diz acreditar que a vacina contra dengue vai gerar uma imunização duradoura. “Provavelmente, as pessoas precisarão tomar a vacina apenas uma única vez”.

Ela ressalta que a dificuldade em se encontrar uma vacina é pelo fato de o vírus da dengue ser formado por dez proteínas, sendo três estruturais (C, M e E) e sete não estruturais.

Das dez, a proteína “E” forma o envelope do vírus, ou seja, forma um envólucro ao redor de suas partículas. O vírus utiliza esta proteína “E” do envelope para se ligar e entrar na célula do hospedeiro (humano). Pesquisas científicas têm mostrado que a proteína “E” é a única que induz a produção de anticorpos protetores para o organismo humano.

Segundo Izabel, a equipe do Laboratório de Bioquímica Humana da Uece, composta por seis pesquisadores, estão clonando e produzindo a proteína “E” do envelope dos quatro sorotipos do vírus da dengue. Izabel Guedes explica que as proteínas serão produzidas em um vírus que infecta plantas e outros vetores.

A pesquisadora da Uece ressalta que os anticorpos contra o envelope viral poderão impedir a entrada do vírus nas células do hospedeiro, que “acreditamos ser a única maneira de impedir a doença”.
Suelem Caminha
Repórter

Fonte: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/uece-pesquisa-vacina-contra-dengue-1.717120

05. Em 2011, a pesquisa já muda de tom, com certo otimismo e com propaganda já institucionalizada pelo Governo do Estado do Ceará, como se pode ver na matéria a seguir:

Uece produz vacina contra a dengue à base de feijão de corda
18 de fevereiro de 2011 às 15:15CearáSaúdeUniversidade
“Foi produzida por pesquisadores da Universidade Estadual do Ceará  (Uece) a primeira vacina de origem vegetal no mundo. Segundo a professora Isabel Florindo Guedes, bioquímica responsável pela  pesquisa, o processo é totalmente pioneiro: “Até o momento, nenhuma  vacina no mundo tinha sido produzida à base de planta”, ressalta.  Aliado a esse pioneirismo, a vacina busca atender uma necessidade cada vez maior da sociedade, que é o combate à dengue. Atualmente, a dengue é a arbovirose mais comum que atinge o homem, sendo responsável, segundo Organização Mundial de Saúde por cerca de 100 milhões de  casos/ano em população de risco de 2,5 a 3 bilhões de seres humanos.  Neste caso, a nova tecnologia, a primeira de origem vegetal, deverá  combater os quatro tipos de manifestação do vírus, incluindo o  hemorrágico.
O feijão de corda (Vigna unguiculata) foi o vegetal utilizado no  procedimento para produção de antígenos para combater o vírus da  dengue.  No processo, os cientistas injetaram genes do vírus na planta, a qual desenvolveu as proteínas anticorpos capazes de gerar as defesas do organismo. A partir daí, os antígenos foram isolados, podendo então ser aplicados em forma de vacina. De acordo com os pesquisadores, uma única planta pode gerar até 50 doses de vacina.  As vantagens da vacina desenvolvida pelos pesquisadores da Uece são inúmeras, dentre elas, o seu método inovador de produção, baixo custo e redução de reações alérgicas, comuns nas vacinas desenvolvidas em métodos tradicionais, que utilizam organismos vivos e vírus atenuados.
Os resultados obtidos através de testes em camundongos foram  positivos; os animais passaram a produzir anticorpos protetores contra  a dengue. O próximo passo é iniciar testes clínicos em seres humanos. Para Isabel Guedes, “é necessário desenvolver drogas eficientes no  combate à dengue. Essa é uma preocupação mundial. Além disso, o custo de prevenção pode ser menor do que os tratamentos convencionais de  pacientes infectados”, destaca.
A Uece protegeu a pesquisa por meio do seu Núcleo de Inovação  Tecnológica (NIT), através de depósito de pedido de patente junto ao  Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). Neste momento, o  NIT e a Rede de Núcleos de Inovação Tecnológica do Ceará (Redenit-CE)  estão trabalhando na transferência desta tecnologia para o mercado, a  fim de que a vacina possa ser produzida em escala industrial e  beneficiar, assim, a população.”
(Site do Governo do Estado)
Fonte: http://blog.opovo.com.br/blogdoeliomar/uece-produz-vacina-contra-a-dengue-a-base-de-feijao-de-corda/

06. Ou seja, têm-se aqui, a contradição típica e característica do Governo do Estado do Ceará, gestões do governador Cid Gomes. Um governo eleito e reeleito com uma missão muito clara: fortalecer as escolas de educação profissional (ilhas de excelência discutíveis no ensino médio) e enfraquecimento, chegando ao desprezo, pela UECE. O governador não perdeu uma oportunidade de deixar claro seu desapreço pelo financiamento da educação superior no estado do Ceará. O deboche sempre foi a tônica de “negociação” da família Ferreira Gomes no tocante ao assunto UECE.

07. Curiosamente, ou não, não tive a oportunidade de ver nenhum candidato publicamente, inclusive o candidato apadrinhado por Cid Gomes, o senhor Camilo Santana, apresentar nenhuma proposta séria e estruturante para a UECE. Isto é um indicativo importante do desprezo da pasta política para com uma instituição fundamental para nosso estado.

08. Não vou sequer entrar na seara da precarização do trabalho na UECE, com um número de professores substitutos talvez maior do que os quadros de empresas terceirizadoras de serviços. Na verdade, este quadro é um escândalo há anos e, na minha opinião, isto e culpa do judiciário cearense (tão severo e desmedido para algumas questões e impotente diante do poder executivo e seus desmandos). Também não vou falar dos salários absurdos pagos aos professores com exigência de mestrado e doutorado que atuam naquela instituição. Só este tópico daria outra discussão.

09. A UECE, hoje com administração da Reitoria do Magnífico Reitor, professor José Jackson Coelho Sampaio (figura que detém meu notável respeito científico) conduz um processo de não enfrentamento dos desmandos protagonizados pelo gestor do executivo estadual. Eu quero acreditar que o professor Jackson dorme preocupado todos os dias com a situação mais precária ainda que vivem os campi da UECE no interior. Campi estes que tive a oportunidade de conhecer e lamentar profundamente o que vi. O que não consigo acreditar e tenho severas dificuldades de entender é o fato de, diante deste quadro, a reitoria emita uma nota tão panos quentes como esta ao saber da retomada da greve:

Nota da Reitoria da UECE sobre a retomada da greve

Informados apenas por professores e pelos meios de comunicação, a respeito da decisão favorável à retomada da greve docente na UECE, aguardamos a formalização pelo Sindicato Docente sobre extensão e motivo da decisão, com o fito de subsidiar outros pronunciamentos.

No ínterim, lamentamos a decisão, pois a agenda de negociação com o Governo Estadual já foi atendida em vários pontos e, o que não foi atendido, encontra-se em negociação (base de cálculo para reforma/ampliação da FACEDI, regulamentação da classe de professor associado, base de cálculo para o quantitativo emergencial do concurso de professor efetivo) ou aprovado para implantação logo após o final do período de proibições decorrentes da lei eleitoral. Maiores detalhes, vide nota publicada no site da UECE em 16/09/14.

Como foi feito anteriormente, o calendário de aulas e os atos estruturantes (colações de grau, vestibular, Semana Universitária etc) não serão suspensos, aguardando-se a regularização das atividades para análise dos impactos e aprovação, no Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão-CEPE, das ações reparadoras que se fizerem necessárias. Disto se deduz que o direito de greve, exercido conforme a lei, continua sendo respeitado, como também continua sendo respeitado o direito de realização de aula daqueles que assim decidirem.

Pela força do compromisso e da inteligência de servidores docentes, servidores técnico-administrativos, estudantes e gestores acadêmicos, a UECE regularizara quase completamente suas atividades, beneficiando-se de incrementos no investimento, no custeio, nos vencimentos dos servidores técnico-administrativo, na política de assistência estudantil, e, sobretudo, na imagem que desfruta junta à sociedade cearense e brasileira. Este é um patrimônio que nenhum de nós pode colocar em dúvida ou em risco.

Administração Superior da UECE:
José Jackson Coelho Sampaio - Reitor
Hidelbrando dos Santos Soares – Vice-Reitor
Josete de Oliveira Castelo Branco Sales – Chefe de Gabinete
Marcília Chagas Barreto - Pró-Reitora de Graduação
Jerffeson Teixeira de Souza – Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Claudiana Nogueira de Alencar – Pró-Reitora de Extensão
Geovanni Jacó de Freitas – Pró-Reitor de Políticas de Assistência Estudantil
Fernando Antônio Alves dos Santos – Pró-Reitor de Planejamento
Carlos Heitor Sales de Lima – Pró-Reitor de Administração


10. A UECE não pode e nem deve ser tratada da forma com tem sido. Considero isto um crime contra a educação deste estado e deste país. Fenômeno este que, guardadas as devidas proporções, vem acontecendo com a Universidade de São Paulo (USP) em que o governo estadual tratou a educação superior de sua responsabilidade como assunto de quinta ordem de prioridade. Enquanto isto segue-se a morte articulada de nossa educação (tanto defendida nas campanhas eleitorais) e o absurdo virou regra com a qual nos conformamos, para meu desespero!


Minha solidariedade pública à comunidade da UECE de um militante formado pela universidade pública, a Universidade Federal do Ceará (UFC), e convicto que sem educação de qualidade jamais deixaremos de ser colônia!

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Do Retorno Deste Blog: comentemos, novamente, sobre privilégios interessantes, ou não!

Caro leitor do Blog Diegopédia, este post se deve ao fato de dois fatos que estão na ordem do dia e que trazem contradições interessantes na sociedade Brasileira.

Vejamos, pois, o que diz uma matéria do o Globo sobre a concessão dada a juízes federais, por entendimento do Ministro Luis Fux do Supremo, a respeito do auxílio moradia. 


STF manda pagar auxílio-moradia a juízes federais sem residência oficial

Ministro Luiz Fux fixou o benefício em R$ 4.377,73, o mesmo oferecido a juízes que trabalham no Supremo

POR 


Luiz Fux, ministro do STF - Supremo Tribunal Federal / Divulgação


BRASÍLIA. O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou o pagamento de auxílio-moradia a juízes federais que moram em cidades onde não há residência oficial disponível. O ministro fixou o valor do benefício no mesmo oferecido a ministros do STF, de R$ 4.377,73. Não será necessário apresentar o recibo de pagamento do aluguel. O valor será pago, mesmo que a despesa com a moradia tenha sido menor. Fux enviou a decisão para o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que vai regulamentar o assunto e fixar um valor definitivo.

Embora haja esse direito, atualmente nenhum ministro da corte recebe o auxílio, porque existem imóveis funcionais disponíveis para todos. A informação é da assessoria de imprensa do STF.

Para justificar a medida, Fux explicou que o auxílio-moradia é pago a juízes estaduais e a membros do Ministério Público, carreiras equivalentes à dos juízes federais. Fux também lembrou que o CNJ concede o auxílio-moradia e conselheiros e magistrados do órgão. E que a Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Loman) prevê o pagamento de auxílio-moradia a todos os magistrados que não têm residência oficial à sua disposição.

“Em razão da simetria entre as carreiras da magistratura e do Ministério Público, que são estruturadas com um eminente caráter nacional, defiro a tutela antecipada requerida, a fim de que todos os juízes federais brasileiros tenham o direito de receber a parcela de caráter indenizatório”, escreveu Fux.

A decisão foi tomada numa ação proposta por um grupo de magistrados. Em seguida, a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) entrou com um pedido para que o benefício fosse estendido a todos os cerca de 1700 juízes federais. Segundo a entidade, 18 Tribunais de Justiça pagam o auxílio-moradia a juízes estaduais. Na decisão, Fux ressalta as diferenças de vencimento dentro da magistratura.

“Um juiz federal percebe mensalmente cerca da metade do que recebe um promotor de Justiça, um juiz de direito estadual e, até mesmo, vencimentos inferiores aos de servidores de entidades paraestatais. Mesmo após a concessão do auxílio-moradia, os juízes federais continuarão a receber bem menos do que os referidos agentes públicos”, argumentou o ministro.

Fux defendeu o benefício como forma de compensar os juízes por não receberem benefícios trabalhistas, como adicional noturno, adicional de insalubridade, adicional de periculosidade, participação nos lucros, FGTS, bônus por produtividade, auxílio-educação, indenização para aprimoramento profissional, ou gratificação por desempenho.

“E nem se diga que o referido benefício revela um exagero ou algo imoral ou incompatível com os padrões de remuneração adotados no Brasil. É que cada categoria de trabalhador brasileiro possui direitos, deveres e verbas que lhe são próprias”, escreveu o ministro. “É isso o que, aliás, tem provocado no Brasil uma recente evasão maciça da carreira da magistratura federal”, completou.

DECISÃO SEGUIU PARECER DO PROCURADOR

Pouco antes da liminar de Fux ser concedida, os juízes federais anunciaram que fariam uma paralisação por aumento salarial. No mês passado, o presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, enviou ao Palácio do Planalto pedido de inclusão no orçamento de 2015 de aumento salarial para os ministros da corte 22%. A presidente Dilma Rousseff vetou o aumento, que refletiria em toda a magistratura brasileira.

A decisão de Fux segue a recomendação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que enviou parecer ao STF sobre o assunto na segunda-feira. Segundo Janot, o auxílio moradia tem caráter indenizatório e não remuneratório. Portanto, não há problema se o valor do benefício somado ao subsídio ultrapasse o valor do teto constitucional, atualmente fixado em R$ 29.462.


Ainda conforme o parecer, a partir da Emenda Constitucional 45, que instituiu a Reforma do Judiciário, a simetria de regime jurídico entre juízes e membros do Ministério Público ficou ainda maior. Portanto, afirma, “é legítima a aplicação recíproca de normas legais de uma à outra carreira, no que couber”.

Fonte: http://oglobo.globo.com/brasil/stf-manda-pagar-auxilio-moradia-juizes-federais-sem-residencia-oficial-13952465

Em complemento, destaco a matéria aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) que trata, também, da aprovação de mais auxílios e privilégios. Trata o seguinte a matéria da Folha de São Paulo que o leitor pode acompanhar n o seguinte link, pois a Folha não permite que eu copie o que ela publica: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/12/1387657-alerj-aprova-auxilio-moradia-para-juizes-promotores-e-aumenta-salario-de-cabral.shtml

Pois bem, diante das argumentações do Ministro Fux e das aprovações feitas pela ALERJ, tenho apenas uma pergunta:

Como ficam os direitos básicos da maioria dos trabalhadores brasileiros que não tem sequer garantias trabalhistas e remuneração digna. Digo mais: é sempre confortável advogar em causa própria em favor dos próprios reajustes e auxílios.

Pergunto ao Supremo se, por exemplo, há causa de mérito em defender que os professores deste país, no meu entendimento mais importantes do que os magistrados, tenham por exemplos seu piso salarial ínfimo respeitado pelas prefeituras e governos de estado.

São questões que fico a me perguntar... O leitor, é claro, fique livre para formar suas convicções...