Eu sempre considerei estranho que os profissionais das equipes de saúde da família (médicos, enfermeiros, dentistas), excluindo-se neste critério os profissionais de nível médio e técnico, tais como os auxiliares e técnicos de enfermagem, auxiliares de saúde bucal e os agentes de saúde, enfim que os primeiros citados, em Fortaleza e em outros contextos do país, recebesse adicionais no seu salário por trabalharem em áreas de risco.
Ora, um primeiro ponto estranho desta história e a assimetria de direitos, pois os profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, profissionais de Educação Física, nutricionistas e outros mais) não recebem, via de regra, estes mesmos "incentivos". E não posso esquecer que, majoritariamente, os profissionais de nível médio não recebem tal "incentivo".
O calculo destes famosos "riscos" são feitos em relação a critérios da defesa civil e alguns critérios das ditas vulnerabilidades sociais. Estes critérios são elaborados para estratificar as fragilidades dos territórios de atuação das equipes de saúde. No entanto, o que me motiva escrever este texto consiste no fato de a Prefeitura de Fortaleza ter feito em 2005/2006 (bem como outras regiões do Brasil terem feito o mesmo) foi estabelecer maior remuneração para quem fosse lotado nestas regiões. Isto é um absurdo!!! Ora, defende-se a lei 8080/90 a Lei 8142/90, bem como uma vasta literatura que prega a aproximação com os territórios, estabelecimento de vínculo e o primeiro passo para estabelecimento deste vínculo e utilitarista-econômico-assimétrico. Não estou afirmando aqui que todos e todas os (as) profissionais se vincularam aos seus territórios por este motivo, mas com certeza uma maioria expressiva o fez por isso e, devo admitir, que o SUS foi assassinado neste dia em que os profissionais de saúde foram barganhados economicamente para lidar com a violência, com a pobreza e com as pessoas dos territórios.
Vendemos a pobreza e pedimos desesperadamente que os profissionais fosse dar uma "força" para estas comunidades até surgir a primeira oportunidade de transferência. Assim legitimamos o pior: a venda do sofrimento (com raríssimas exceções)
É por essas e outras que não aguento quando vejo profissionais reclamarem de privilégios de médicos (que é assunto para debates em outros momentos), de privilégios mil, mas esquecem do privilégio fundamental: a venda de sua assistência em saúde para os pobres que podem lhe trazer algum "perigo".
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